O país do futuro não se preparou para o
presente
Tobias Ferraz* – março de
2013
Via Anhanguera, rodovia padrão no Estado de São Paulo |
O
brasileiro parece ser movido pela fé: acredita que o dia seguinte será melhor,
pura e simplesmente por acreditar.
Para
quem vive da produção agrícola e pecuária e circula pelo Brasil-Central, Norte
e algumas regiões do Sudeste, sabe muito bem o que é a epopeia do escoamento da
produção para os grandes centros de consumo e para os portos. Só mesmo apelando
para a mitologia grega e dando o devido crédito aos deuses por tamanha força
empenhada nessa tarefa; e olha que nossos produtores e empresários não são
divindades; heróis, sem sombra de dúvida. Vencedores de barreiras geográficas e
físicas num País sem estradas e com pouca ferrovia e hidrovia para baratear o
custo dos transportes. A gota d’água foi o possível cancelamento de 2 milhões
de toneladas de soja por parte dos importadores chineses, e com toda a razão.
Com filas enormes nos portos, os chineses não conseguem receber o produto, os
brasileiros não conseguem embarcar a soja, e os caminhoneiros não querem
enfrentar atoleiros e crateras no caminho entre as fazendas e os portos. O
prazo de entrega simplesmente não é cumprido.
Enquanto
as fazendas de grãos têm eficiência e produtividade de dar inveja aos
produtores dos países ricos, a falta de logística gera um congestionamento
capaz de paralisar toda a exportação.
BR-070, Campo Verde-MT |
Zé do Buraco, crítica com bom humor |
O
ambiente interno traz ainda outros agentes complicadores. Chove bem em muitas
regiões produtoras neste final de março e a colheita tem de ser interrompida,
comprometendo a qualidade dos grãos e o plantio da segunda safra.
O
Nordeste vive a pior seca dos últimos 40 anos. Cerca de 2 milhões de cabeças de
gado morreram por falta de água e alimento. Não existe agilidade para levar
grãos para o gado do Centro-Oeste para o Nordeste. Os projetos de irrigação não
saem do papel. Uma situação recorrente, agravada pela extensão da seca. Como os
fatos ser repetem, deveríamos ter um plano para evitar tamanha perda, que não
se aplica apenas ao rebanho de cada produtor, mas se estende também para a
economia de municípios, afetando toda uma região.
A
região serrana do Rio de Janeiro vive o terror dos deslizamentos das encostas,
habitadas com ou sem consentimento dos órgãos públicos causando novamente
mortes e milhares de brasileiros novamente desabrigados e atormentados com a
falta de segurança sob um teto que deveria ser lar e abrigo. Um problema apesar
de recorrente, ainda sem solução.
Vivemos
em um Brasil de contrastes. Nossa vocação parece não ser o equilíbrio. Ao
contrário dos pilares da fé, a lógica e a razão podem muito bem solucionar
todos os nossos problemas. Não dependemos de deuses e nem de heróis; nossos
problemas são terrenos e podem muito bem ser solucionados com projetos – muitos
já existentes – e investimento em obras que realmente tragam conforto,
competitividade e atendam às necessidades atuais do País.
Vivemos
hoje um dos maiores paradoxos de nossa história: “Brasil celeiro do mundo”, mas
com um abismo que separa produtores e consumidores. Até quando???
*Jornalista,
âncora do Canal Terraviva, o canal de agronegócios do Grupo Bandeirantes de
Comunicação.///
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