sábado, 23 de março de 2013

ATÉ QUANDO?



O país do futuro não se preparou para o presente

Tobias Ferraz* – março de 2013
Via Anhanguera, rodovia padrão no Estado de São  Paulo

O brasileiro parece ser movido pela fé: acredita que o dia seguinte será melhor, pura e simplesmente por acreditar.

Para quem vive da produção agrícola e pecuária e circula pelo Brasil-Central, Norte e algumas regiões do Sudeste, sabe muito bem o que é a epopeia do escoamento da produção para os grandes centros de consumo e para os portos. Só mesmo apelando para a mitologia grega e dando o devido crédito aos deuses por tamanha força empenhada nessa tarefa; e olha que nossos produtores e empresários não são divindades; heróis, sem sombra de dúvida. Vencedores de barreiras geográficas e físicas num País sem estradas e com pouca ferrovia e hidrovia para baratear o custo dos transportes. A gota d’água foi o possível cancelamento de 2 milhões de toneladas de soja por parte dos importadores chineses, e com toda a razão. Com filas enormes nos portos, os chineses não conseguem receber o produto, os brasileiros não conseguem embarcar a soja, e os caminhoneiros não querem enfrentar atoleiros e crateras no caminho entre as fazendas e os portos. O prazo de entrega simplesmente não é cumprido.
BR-070, Campo Verde-MT
Enquanto as fazendas de grãos têm eficiência e produtividade de dar inveja aos produtores dos países ricos, a falta de logística gera um congestionamento capaz de paralisar toda a exportação.
Zé do Buraco, crítica com bom humor
Caminhamos para uma safra recorde de grãos, segundo alguns analistas, na casa dos 185 milhões de toneladas, mas a soja não consegue chegar até o porto, não conseguimos cumprir os contratos por falta de logística e infraestrutura. Os prejuízos estimados estão na casa dos US$ 5 bilhões anualmente - isso sem contar o novo fator que é o cancelamento de contratos pela demora nos embarques nos portos.

O ambiente interno traz ainda outros agentes complicadores. Chove bem em muitas regiões produtoras neste final de março e a colheita tem de ser interrompida, comprometendo a qualidade dos grãos e o plantio da segunda safra.

O Nordeste vive a pior seca dos últimos 40 anos. Cerca de 2 milhões de cabeças de gado morreram por falta de água e alimento. Não existe agilidade para levar grãos para o gado do Centro-Oeste para o Nordeste. Os projetos de irrigação não saem do papel. Uma situação recorrente, agravada pela extensão da seca. Como os fatos ser repetem, deveríamos ter um plano para evitar tamanha perda, que não se aplica apenas ao rebanho de cada produtor, mas se estende também para a economia de municípios, afetando toda uma região.

A região serrana do Rio de Janeiro vive o terror dos deslizamentos das encostas, habitadas com ou sem consentimento dos órgãos públicos causando novamente mortes e milhares de brasileiros novamente desabrigados e atormentados com a falta de segurança sob um teto que deveria ser lar e abrigo. Um problema apesar de recorrente, ainda sem solução.

Vivemos em um Brasil de contrastes. Nossa vocação parece não ser o equilíbrio. Ao contrário dos pilares da fé, a lógica e a razão podem muito bem solucionar todos os nossos problemas. Não dependemos de deuses e nem de heróis; nossos problemas são terrenos e podem muito bem ser solucionados com projetos – muitos já existentes – e investimento em obras que realmente tragam conforto, competitividade e atendam às necessidades atuais do País.

Vivemos hoje um dos maiores paradoxos de nossa história: “Brasil celeiro do mundo”, mas com um abismo que separa produtores e consumidores. Até quando???

*Jornalista, âncora do Canal Terraviva, o canal de agronegócios do Grupo Bandeirantes de Comunicação.///

 

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