quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Dia Nacional da Consciência Negra

Congada: herança viva da resistência. Foto:Tobias Ferraz

Hoje é um dia para refletirmos sobre o grande herói Zumbi, símbolo de resistência não só de uma etnia, mas de todos os renegados.

Neste dia vale lembrar Gilberto Freyre em trecho de Casa grande & Senzala:

"Todo brasileiro, mesmo o alvo, de cabelo louro, traz na alma, quando não na alma e no corpo – há muita gente de jenipapo ou mancha mongólica pelo Brasil – a sombra, ou pelo menos a pinta do indígena ou do negro. No litoral, do Maranhão ao Rio Grande do Sul, e em Minas Gerais, principalmente do negro. A influência direta ou vaga e remota, do africano."(FREYRE, 1964, 367)

sábado, 15 de novembro de 2008

Da diáspora à resistência

Terno de congo Minas Brasil, mais de 120 anos de tradição.

Deixa o munho muê,
deixa o munho muê; ribeirão.
Trovão é quem manda chuva,
que segura esse capoeirão.
Quadra de verso clássica entre os cânticos congadeiros, de domínio popular e autor desconhecido, onde a palavra moinho apresenta a corruptela para a forma munho.


Treze de maio de 2008, 6h30. Vila Celeste, bem próximo ao centro de Uberaba. Um grupo de costureiras, artistas plásticos e apoiadores, formam um batalhão que dá forma e vida para a grande festa. É um vai e vem constante no corredor improvisado como oficina de costura e produção de adereços na casa de Tia Luzia, líder espiritual da Umbanda, matriarca que dita as ordens e impõe-se pelo respeito e autoridade que tem entre os membros do clã Mapuaba, tradicional família descendente de escravos africanos e residentes no Triângulo Mineiro há mais de 120 anos.
O ruído das máquinas de costura se mistura com o bater de martelos, diálogos e risos. Do tacho borbulhante no fogão vem o cheiro do ensopado que toma conta do galpão, invade todo o ambiente com aroma de ervas e desperta até mesmo o mais sonolento paladar nessas primeiras horas da manhã.
É uma grande oficina familiar. Mãos hábeis e firmes produzem o fardamento para os oficiais e soldados que, dali à algumas horas, vão mostrar toda a exuberância dos Ternos de Congada Minas Brasil I e II durante o cortejo do Treze de Maio. É dia de festa!

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

De chapéu recostado no peito




Conheci o Flavinho no começo dos anos 2000, na região de Paineiras, no meio-oeste de Minas Gerais. Na época um jovem tratador que demonstrava um futuro promissor na lida com o gado zebu, mais precisamente pela sensibilidade no trato com a raça Nelore. Apresentava, além do carinho, um grande respeito pelos animais – “Dá uma dó quando o patrão vende e eles vão embora”.
Anos mais tarde, fui reencontrá-lo em Uberaba, já cuidando das cocheiras da Chácara Naviraí. Nada mais acertado; um peão dedicado como ele, só poderia ter por destino certo, a Capital Brasileira do Zebu.
Um traço marcante no Flavinho sempre foi o sorriso fácil, a conversa amigável, a boa educação em todos os momentos, principalmente quando passávamos um certo tempo sem nos encontrar; lá vinha o Flavinho fazendo festa, contando as novidades, comentando sobre uma bezerra extraordinária ou sobre a descoberta de um bezerro “que vai dar o que falar” como ele gostava de dizer. Sempre curioso, perguntador e de olhar atento, dizia que tinha muito ainda o que aprender sobre o Zebu e “suas manhas” disse várias vezes que “aprendia mesmo era no esteio”, na lida do dia a dia, na convivência com os criadores e zebuzeiros experientes.
Nossa amizade sempre foi pautada pela espontaneidade. Certa vez comparou-me à Galvão Bueno (dizia gostar das minhas locuções), no que devolvi de bate-e-pronto, que ele é que era a “cara” do Galvão. A semelhança é indiscutível; o Flavinho ria com a brincadeira e seguia falando dos animais de destaque. Isso foi há pouco, no pavilhão da Naviraí montado na ExpoGenética, no Parque de exposições de Uberaba.
Tínhamos em comum a admiração pelo trabalho de Cláudio Sabino Carvalho, personagem tema de muitas de nossas conversas. Ele gostava de contar sobre os aprendizados com o Mestre - “Tobias, o seu Cláudio gosta demais dessa bezerra aqui. Eu falei pra ele que eu gosto mais da irmã dela... Por que será que o seu Cláudio gostou mais dessa?” – e assim a gente ia aprendendo a “calibrar” os olhos de acordo com a baliza de seu Cláudio.
Na próxima exposição de Uberaba, quando os tratadores se reunirem para o julgamento, muitos irão falar do Flavinho, lembrar dele e rir das “coisas dele”. Na próxima ExpoGenética, quando animais superiores forem comentados pelos técnicos e geneticistas, o sorriso do Flavinho vai estar ali, apontando “um garrote bom, uma bezerra extraordinária” ou uma vaca “barriga de ouro”.
Flávio José da Silva morreu num acidente de carro no dia 12 de novembro de 2008, na BR 050, aos 28 anos de idade. Flavinho está agora na Fazenda do Céu, apartando entre as nuvens “um garrote bom” ou “uma novilha extraordinária”, talvez um filho do Átma e uma filha do Paysandu.

Uberaba, 13 de novembro de 2008.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Obama e o vassourão

Primeira página publicada no site Comunique-se.


O professor Darcy Ribeiro no artigo Sobre o óbvio afirma que "a elite brasileira é de uma sabedoria atroz", mas tudo leva a crer que esse traço não é privilégio apenas da elite tupiniquim.
Com a crise financeira mundial ainda nas primeiras contrações, a vitória de Obama parece coisa "de caso pensado", ou seja, o Bush Júnior sujou a água, a coisa vai ficar mais feia ainda, então, parece que a elite branca, protestante e conservadora aprontou mais uma das suas -"Bota o negão lá pra fazer a faxina". Se tudo correr bem, Obama vai passar o seu mandato usando um vassourão.///