Conheci o Flavinho no começo dos anos 2000, na região de Paineiras, no meio-oeste de Minas Gerais. Na época um jovem tratador que demonstrava um futuro promissor na lida com o gado zebu, mais precisamente pela sensibilidade no trato com a raça Nelore. Apresentava, além do carinho, um grande respeito pelos animais – “Dá uma dó quando o patrão vende e eles vão embora”.
Anos mais tarde, fui reencontrá-lo em Uberaba, já cuidando das cocheiras da Chácara Naviraí. Nada mais acertado; um peão dedicado como ele, só poderia ter por destino certo, a Capital Brasileira do Zebu.
Um traço marcante no Flavinho sempre foi o sorriso fácil, a conversa amigável, a boa educação em todos os momentos, principalmente quando passávamos um certo tempo sem nos encontrar; lá vinha o Flavinho fazendo festa, contando as novidades, comentando sobre uma bezerra extraordinária ou sobre a descoberta de um bezerro “que vai dar o que falar” como ele gostava de dizer. Sempre curioso, perguntador e de olhar atento, dizia que tinha muito ainda o que aprender sobre o Zebu e “suas manhas” disse várias vezes que “aprendia mesmo era no esteio”, na lida do dia a dia, na convivência com os criadores e zebuzeiros experientes.
Nossa amizade sempre foi pautada pela espontaneidade. Certa vez comparou-me à Galvão Bueno (dizia gostar das minhas locuções), no que devolvi de bate-e-pronto, que ele é que era a “cara” do Galvão. A semelhança é indiscutível; o Flavinho ria com a brincadeira e seguia falando dos animais de destaque. Isso foi há pouco, no pavilhão da Naviraí montado na ExpoGenética, no Parque de exposições de Uberaba.
Tínhamos em comum a admiração pelo trabalho de Cláudio Sabino Carvalho, personagem tema de muitas de nossas conversas. Ele gostava de contar sobre os aprendizados com o Mestre - “Tobias, o seu Cláudio gosta demais dessa bezerra aqui. Eu falei pra ele que eu gosto mais da irmã dela... Por que será que o seu Cláudio gostou mais dessa?” – e assim a gente ia aprendendo a “calibrar” os olhos de acordo com a baliza de seu Cláudio.
Na próxima exposição de Uberaba, quando os tratadores se reunirem para o julgamento, muitos irão falar do Flavinho, lembrar dele e rir das “coisas dele”. Na próxima ExpoGenética, quando animais superiores forem comentados pelos técnicos e geneticistas, o sorriso do Flavinho vai estar ali, apontando “um garrote bom, uma bezerra extraordinária” ou uma vaca “barriga de ouro”.
Flávio José da Silva morreu num acidente de carro no dia 12 de novembro de 2008, na BR 050, aos 28 anos de idade. Flavinho está agora na Fazenda do Céu, apartando entre as nuvens “um garrote bom” ou “uma novilha extraordinária”, talvez um filho do Átma e uma filha do Paysandu.
Uberaba, 13 de novembro de 2008.