Uberaba, outubro de 2008
Um recorte na vida de Trumam Capote produzido por Hollywood retrata a saga de um repórter; não só em busca de uma grande notícia para o jornal, mas o privilégio de estar diante de uma grande história e a possibilidade de poder experimentar um novo formato narrativo. Em A sangue frio, Capote funde jornalismo e literatura, mesclando também práticas de pesquisa empregadas nas duas modalidades. Na fase de levantamento de dados não existe o rigor da investigação jornalística, apesar de Capote contar com uma assistente considerada experiente e competente na apuração de dados. O autor auto-declara senhor de memória privilegiada, aptidão que implica em larga vantagem para o exercício do jornalismo e favorece potencialmente a observação participante. Talvez seja essa memória privilegiada de Capote o elemento chave para o enriquecimento da narrativa, principalmente no que diz respeito a descrição de cenários, situações, expressões e diálogos com os entrevistados.
No que diz respeito aos “métodos” utilizados por Truman para conseguir informações, há de se respeitar o momento histórico vivido por ele, quando o jornalismo estava em ascendência e as regras de comportamento do jornalista ainda estavam em construção. Se o autor subornou, seduziu ou envolveu seu principal entrevistado, a partir da premissa do momento histórico, não existe culpabilidade, entendo que a corrupção aconteceu com dinheiro da empresa jornalística em que ele trabalhava ou ainda, que essa prática poderia ser recorrente na época.
Capote e seu A sangue frio é, sem dúvida, um marco para o jornalismo norte americano pela inovação no estilo, porém é mais que isso, é a busca constante de um profissional da escrita na tentativa de contar uma história, uma história que mostra os conflitos sociais de um país que sempre se esforçou em mostrar-se para o mundo como uma sociedade estável, próspera, equilibrada e cheia de oportunidades para todos os seus cidadãos. Capote envolve-se de corpo e alma em duas construções em um mesmo projeto – ao mesmo tempo em que levanta e apura os dados, busca um estilo inovador – engenharia e arquitetura da narrativa sendo construídas ao mesmo tempo. Procurar demérito no trabalho de Capote é perda de tempo. Ele perseguiu a notícia, foi atrás da história com compulsiva determinação e tornou a história pública, enriquecida com minúcias de detalhes e impressões.
Caso as afetações do autor, seu ego imperativo e seu grande poder de persuasão tornaram-se elementos de conflito em sua mente, caso ele tenha percebido que causou algum mal com sua maneira de ser e de agir, pagou em vida com uma mente atormentada, destruída pela depressão e anestesiada pelo álcool.
Capote fez do jornalismo sua passarela; e da literatura, sua apoteose. Hoje, muito se fala do poder de persuasão do jornalista, não é a persuasão uma forma de sedução? Hoje, os meios para se conseguir uma informação estão em caminhos não muito iluminados à luz da ética, ou seja, Capote cometeu seus pecados, quem vai atirar a primeira pedra?///
Um recorte na vida de Trumam Capote produzido por Hollywood retrata a saga de um repórter; não só em busca de uma grande notícia para o jornal, mas o privilégio de estar diante de uma grande história e a possibilidade de poder experimentar um novo formato narrativo. Em A sangue frio, Capote funde jornalismo e literatura, mesclando também práticas de pesquisa empregadas nas duas modalidades. Na fase de levantamento de dados não existe o rigor da investigação jornalística, apesar de Capote contar com uma assistente considerada experiente e competente na apuração de dados. O autor auto-declara senhor de memória privilegiada, aptidão que implica em larga vantagem para o exercício do jornalismo e favorece potencialmente a observação participante. Talvez seja essa memória privilegiada de Capote o elemento chave para o enriquecimento da narrativa, principalmente no que diz respeito a descrição de cenários, situações, expressões e diálogos com os entrevistados.
No que diz respeito aos “métodos” utilizados por Truman para conseguir informações, há de se respeitar o momento histórico vivido por ele, quando o jornalismo estava em ascendência e as regras de comportamento do jornalista ainda estavam em construção. Se o autor subornou, seduziu ou envolveu seu principal entrevistado, a partir da premissa do momento histórico, não existe culpabilidade, entendo que a corrupção aconteceu com dinheiro da empresa jornalística em que ele trabalhava ou ainda, que essa prática poderia ser recorrente na época.
Capote e seu A sangue frio é, sem dúvida, um marco para o jornalismo norte americano pela inovação no estilo, porém é mais que isso, é a busca constante de um profissional da escrita na tentativa de contar uma história, uma história que mostra os conflitos sociais de um país que sempre se esforçou em mostrar-se para o mundo como uma sociedade estável, próspera, equilibrada e cheia de oportunidades para todos os seus cidadãos. Capote envolve-se de corpo e alma em duas construções em um mesmo projeto – ao mesmo tempo em que levanta e apura os dados, busca um estilo inovador – engenharia e arquitetura da narrativa sendo construídas ao mesmo tempo. Procurar demérito no trabalho de Capote é perda de tempo. Ele perseguiu a notícia, foi atrás da história com compulsiva determinação e tornou a história pública, enriquecida com minúcias de detalhes e impressões.
Caso as afetações do autor, seu ego imperativo e seu grande poder de persuasão tornaram-se elementos de conflito em sua mente, caso ele tenha percebido que causou algum mal com sua maneira de ser e de agir, pagou em vida com uma mente atormentada, destruída pela depressão e anestesiada pelo álcool.
Capote fez do jornalismo sua passarela; e da literatura, sua apoteose. Hoje, muito se fala do poder de persuasão do jornalista, não é a persuasão uma forma de sedução? Hoje, os meios para se conseguir uma informação estão em caminhos não muito iluminados à luz da ética, ou seja, Capote cometeu seus pecados, quem vai atirar a primeira pedra?///